segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A queda de um anjo!

A medida que o airbus A319 faz aproximação a pista do aeroporto internacional Osvaldo Vieira, o coração bate cada vez mais forte, tanto que a sensação é que o coração vai “saltar” fora do peito. Será que só nós os guineenses sentimos essa sensação tão forte quando regressamos a nossa pátria mãe? Longe de mim menosprezar outras nacionalidades, mas…! Um turista uma vez me perguntou, porque o regresso a casa é tão emocionante para nós? O sorriso largo na minha face, foi o suficiente, para ele entender o que me ia na alma. Contudo este regresso não foi como outro, desta vez algo mudou, eu mudei, e Bissau também, já não temos a mesma “química” quanto tivemos no passado, Bissau cresceu e desenvolveu novos hábitos e caminhos obscuros, e eu deixei de a ver de uma forma inocente e pura como sempre a vi, foi como se tivesse levado um soco no estômago. Eu cresci entre uma viagem e outra. A minha pátria é outra, ela agora é uma senhora “sedenta” de desejos tão extravagantes como perigosas, a bela jovem inocente, apaixonou-se pelo o “Dark Side” e pelos vistos foi “amor a primeira vista” só de pensar que dessa relação podem nascer pequenos “Darth Vader” fico com sensação de vômitos. Eu deixei de ser o seu “cavaleiro andante” e “ela” minha doce Dulcineia, contudo sei que esse amor de perdição que temos um pelo outro não acabou, apenas está adormecido. Como se deu esse afastamento tão doloroso? Não sei, o que sei é que dói ver a “paixão” da minha vida tão perdida e desorientada, pior, entrou num caminho de autodestruição, e eu nada posso fazer, a não ser assistir de camarote, tem destino mais cruel que esse? Porque tudo nesta vida se resume ao amor, e por amor fazemos tudo, até a maior das loucuras. Queria que eu e “ela” voltássemos a ser crianças de novo, voltássemos acreditar num mundo perfeito, em super-herois, brincar com os nossos amigos de infância com a inocência pura e própria dessa idade, e quando sentíssemos medo, correr para os braços das nossas mães, lugar mais seguro para uma criança, por entre aqueles braço nada penetra, apenas o carrinho e a protecção da progenitora. A onde foi essa Bissau? Por onde anda, chamo por ela, uma e outra vez, quero falar com ela, preveni-la das armadilhas da vida, dos perigos, quero metê-la algum juízo na cabeça, mas não consigo, não da mais, ela já não existe, há muito desapareceu. O tempo é uma coisa misteriosa, alguém uma vez disse que; “ A excepção da honra tudo se compra tudo se vende” eu acrescentaria que; “A excepção da honra e do tempo tudo se compra tudo se vende”. A “minha” Bissau corrompeu-se com o tempo, mas só agora vejo esse facto, o mais grave é que os indícios estão todos lá, ela simplesmente deixou-se levar pelos prazeres da vida boémia, da malícia, do ganho fácil, e da gula. Quero salvar minha amiga, mas infelizmente parece que ela não quer salva, é o que ela me diz cada vez que lá vou! Quem te pediu para ser meu salvador… ou melhor quem te disse que eu preciso de ser salva? Talvez seja inveja porque ela arranjou novos amigos, inveja não será a palavra adequada, porque amigos assim dispenso com todo gosto, diria antes ciúmes. Mas porque eu teria ciúmes de Colombianos, de Ak’s 40 de Makaffo’s, e de colarinhos brancos? Vai-se lá saber ou entender. Fecho os meus olhos e lembro quando a tua doçura era o suficiente para sarar as nossas mágoas, e hoje, infelizmente as lágrimas não vão fazer aqueles tempos voltarem, os teus olhos já só reflectem caos e confusão em que te tornastes, o silêncio e medo imperam ao teu redor, e o futuro é incerto. Da tua ganância desmedida tornastes escrava. Nesse teu devaneio sei que existe um lado bom, e é a esse lado a quem quero relembrar, as coisas importantes pelas quais passamos, como a conquista da independência, o orgulho em sermos Guineenses, a honestidade reconhecida, a bravura humildade, e decência. O mundo não é perfeito, e a vida não é um mar de rosas, ela pode ser dura e cruel para aqueles que não estão preparados para nela navegar. E tu minha amiga, mesmo que as forças das trevas continuam a manipular as rédeas do teu destino, tenha sempre em mente que o dia da liberdade vai chegar, porque não há mal que dure para sempre, e sobretudo acredita em ti mesma, porque “Aqueles que têm a coragem aguentam as agruras do tempo, as folhas caem, mas a árvore continua de pé” e se Cabral ousou a sonhar com a independência, e nos ensinou que todos nós juntos formamos uma pátria chamada Guiné-bissau, então cabe a todos nós tornar a acreditar que é possível voltar a sonhar com independência e democracia.